domingo, 22 de março de 2009

Interferindo na Vida Prática


Eu sei que a gente se acostuma, mas nao devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e nao ter outra vista q nao as janelas ao redor. E pq nao tem vista, logo se acostuma a nao olhar pra fora. E pq nao olha pra fora, logo se acostuma a nao abrir d tdo as cortinas. E pq nao abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E pq a medida q se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidao.

A gent se acostuma a acordar d manha, sobressaltado pq está na hora. A tomar o café correndo pq está atrasado. A ler o jornal no carro pq nao pode perder o tempo da viajem. A comer sanduiches pq já é d noite. A coxilar no ônibus pq está cansado. A deitar e dormir pensando sem ter vivido o dia.
A gent se acostuma a poluiçao, a luz artificial. Ao choque q os olhos levam na luz natural. As besteiras das musicas, as bactérias da água potável, a contaminaçao da água do mar. A luta. A lenta morte dos rios. E se acostuma a nao ouvir os passarinhos, a nao colher frutos do pé, a nao ter sequer uma planta.
A gent se acostuma a coisas dmais pra nao sofrer. Em doses pequenas, tentando nao perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema ta cheio, a gent senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia ta contaminada a gent só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho ta duro, a gent se consola pensando no fim d samana. Se no fds a gent nao tem mto pra fazer, vai dormir mais cedo e ainda fica satisfeito pq tem sempre o sono atrasado.
A gent se acostuma para nao ralar na aspereza, para preservar a pele. A gent se acostuma pra poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, d tanto se acostumar, se perde em si mesma.

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